VIENA DANÇA COM OS MUSEUS

Com a abertura do “Bairro dos Museus”, a cidade da música transformou os estereótipos e os clichês que queriam conservá-la no ritmo de uma valsa.  Hoje, ela já investe na arte contemporânea em todas as suas formas, visuais, acústicas, corporais.

FONTE: LEFIGARO.FR

LE FIGARO

Viena, Françoise Lepeltier

Publicado em 11 de julho de 2001, página 14

O século XX se restringiu aos fogos de artifício arquitetônico do Museu Guggenheim em Bilbao.  O século XXI se inicia com o “Bairro dos Museus” de Viena.  Assim como a onda modernista que revolucionou a Espanha, a capital austríaca vive agora sua “movida” (mostra de Viena).  A cidade da música transforma os estereótipos e os clichês que queriam conservá-la no ritmo de uma valsa, e agora começa a investir na arte contemporânea em todas as suas formas, visuais, acústicas, corporais.

Para acolher esse novo destino, era preciso um lugar que não rompesse essa harmonia urbana que faz de Viena uma cidade única onde se reúnem sem atritos todos os estilos, do rigor medieval ao barroco inovador até as volutas de “Jugend Still” de Otto Wagner e as protuberâncias coloridas de Hundertwasser.  Após vinte anos de discussões apaixonadas, o projeto de criar monumentais e antigos estábulos imperiais, patrimônios da vanguarda, foi enfim realizada.

Até hoje o centro histórico de Viena compreendia somente os dois imponentes museus gêmeos (de Belas Artes e de História Natural) construídos no fim do século XIX durante os grandes trabalhos que marcaram o reinado do Imperador Francisco José.  Como ancestrais bondosos, eles vigiam esses centros artísticos inaugurados recentemente que ocupam menos de 60.000 m². Somente a estátua da Imperatriz Maria Teresa é que parece, deliberadamente, virar as costas a essa nova audácia.  Contudo, olhando do exterior, nada nos leva a adivinhar essa inovação.  Grandes corredores com gramados verdes revestidos de branco conduzem a  longos prédios de cor amarela pálida com o puro estilo barroco das colunas, hipódromos e  centros de manobras eqüestres onde, outrora, se apresentavam os oficiais da cavalaria imperial.

É preciso passar pelos arcos do prédio como se fosse através de uma passarela para conhecer o verdadeiro  espírito do lugar: de um lado a outro da praça principal, encontram-se dois imensos blocos, um de travertino imaculado, outro de basalto.  Os críticos do projeto já escolheram um apelido para essas construções, “os sarcófagos”.  É como se entrássemos no túmulo de um faraó galaxiano, iluminado por átrios de luz.  O que se pode lamentar dos arquitetos do prédio é de terem esquecido que, alguns visitantes, poderiam sofrer vertigens em razão da utilização excessiva de lajes de vidro.

A partir de 21 de setembro, o templo branco será  a imagem de uma coleção permanente única no mundo: a de Rudolph Leopold, um mercador e empresário.  Foi ele que revelou ao mundo a obra desse esboço vivo, antes de descobrir Kokoschka, Klimt e outros.  Não há dúvidas de que o museu Leopold será uma etapa tão inconfundível quanto o Moma (Museu de Arte Moderna) de Nova York.

A partir de 16 de setembro, o templo cinza, ou Mumok (Museu de Arte Moderna da Fundação Ludwig), receberá a maior coleção permanente de arte moderna e contemporânea da Áustria e, também temporária, trabalhos de artistas que evocam temas dos mais atuais, como o vídeo.  Entre os dois, o Kunsthalle, que se instalou no antigo carrossel de inverno, é um espaço de discussão e de forums, assim como, de exposições.

Os prédios que circundam e os corredores adjacentes abrigam o Centro Arquitetônico de Viena, o Centro de Dança Contemporânea, um Espaço Cibernético, Galerias, Ateliês, um Museu para crianças, Lojas, Restaurantes e Cafés.  Não é somente um centro artístico mas também uma mostra de vida, criada para ser uma ponte entre a sociedade civil e a arte.

Essa interatividade é onipresente no urbanismo dos vienenses, assim como nos festivais que ao longo do ano animam a capital austríaca.

O início da estação do verão foi aberta pelos festivais do Danúbio (em junho).  Até 31 de agosto a grande praça que se estende em frente à Prefeitura torna-se um gigantesco cinema ao ar livre. Desde o início da noite, projeta-se numa tela gigante, óperas e concertos filmados. Nesta temporada, de comemoração obrigatória, Verdi é o destaque.  Entre dois acordes de “Aida” (acordes musicais do compositor italiano Giuseppe Verdi), os apaixonados por música encontram, em baixo de tendas brancas, o que precisavam para se revigorar e se satisfazer.  Viena não saberia conservar a alegria de viver sem os prazeres da música.

1TRADUÇÃO DE ELIZABETH FERNANDA C. BARROS
Assessora Executiva do Cineclube dos Educadores
e da Assessoria de Imprensa Theresa Catharina

REVISÃO DE THERESA CATHARINA G. CAMPOS

Voltar